MARCOS DA PRESENÇA SALETINA NO BRASIL
Revejam os caminhos do passado, coloquem marcos como pontos de referência (Is 54,2).
Com
esta reflexão queremos redescobrir alguns dos marcos que norteiam a presença
saletina no Brasil. Queremos fazê-lo à luz do convite do profeta Isaías:
“Aumente o espaço de sua tenda, ligeira estenda a lona, estique as cordas,
coloque marcos como pontos de referência, porque você vai se estender para a
direita e para a esquerda, seus filhos herdarão nações e povoarão cidades
desabitadas”. Sem duvida, o profeta conclama seus contemporâneos à esperança de
uma nova era alimentada pela utopia que incentiva e orienta o desejo dos homens
para uma sociedade justa e fraterna.
A fixação de marcos, a colocação de
estacas determina rumos, metas, objetivos
os quais permitirão estender a lona que começa a dar forma à nova casa dos
saletinos no Brasil e que vai se alargando do sul ao norte, do leste ao oeste
formando uma grande cruz cuja base é o RS e seu topo a Bahia, seu braço começa
em MG e termina na Rondônia. Esse grande cruzeiro foi sendo construído durante
110 anos (1902-2012).
Os
MS, embalados pela ousadia dos pioneiros e pela responsabilidade audaciosa das
gerações que os sucederam, ao construir essa cruz, aprenderam a ser discípulos
do Evangelho e da história. Ao longo desse caminho, apesar das vacilações, das
fragilidades, das incertezas superabunda com nitidez a fidelidade criativa à
graça de Deus.
Façamos
memória de alguns dos marcos que norteiam nossa presença no Brasil.
O
primeiro marco é uma espiritualidade alicerçada na fidelidade criativa ao nosso
carisma e na compaixão pelos pobres. Certamente quando da chegada dos
pioneiros, a compreensão da espiritualidade era concebida a partir da
trilogia: “vítima-expiação-reparação” corroborada pela expressão “vítima com
Jesus-Hóstia e Maria, Mãe das Dores”. Era por essa concepção que se fazia a
releitura do MS como “homem de oração, de penitência e de zelo”. Pela oração,
penitência e zelo, o MS se oferecia como reparação/expiação dos pecados da
humanidade como forma de compensar os sofrimentos de Cristo em favor da
humanidade.
Esta
concepção de espiritualidade marcava a compreensão do carisma da reconciliação,
o qual era visto mais na perspectiva do sacramento da confissão. Esta era o
meio mais eficaz para a reconciliação da pessoa com Deus.
Com
o advento do Concílio Vaticano II, das Conferências de Medellin, Puebla, Santo
Domingo e Aparecida..., com a prática da CEBs, do CEBI... o carisma da
reconciliação foi adquirindo uma compreensão mais abrangente e dinâmica:
reconciliação com Deus, com o próximo, consigo mesmo e com todo o ser criado. A
Reconciliação engloba a dimensão espiritual, social, psicológica e ecológica.
Ela tem a ver tanto com o eu, com os outros, com Deus e com a criação como um
todo. A marca desta virada é compaixão. O agente da reconciliação é um
apaixonado por Deus, pelos outros, pelo universo e pela sua dignidade pessoal
e, por isso, ele se doa integralmente assumindo as lutas pela paz, pelo
respeito aos direitos humanos e pelo respeito de todo o ser criado.
Como estamos atualizando esse primeiro marco em nossas atividades, em nossa
vida de comunidade e em nossa vida de oração?
O
segundo marco é a revalorização da pastoral vocacional e da formação inicial e
permanente como requisitos essenciais da vida comunitária. Nesse caminhar
fomos descobrindo que cada religioso é responsável pelo despertar das vocações
e pelo acompanhamento dos vocacionados. Criou-se a consciência de que devemos
ser uma comunidade formadora na qual cada um é formador e formando, cada um tem
dons a oferecer e que os demais podem enriquecer-se com o dom dos outros. Os
Estatutos Provinciais consagram essa expressão: “A Comunidade Local é, por si mesma,
Comunidade Formadora. A esse título, se empenha na Pastoral Vocacional,
formação dos candidatos e formação permanente dos próprios membros” (Estatutos
Provinciais, n. 15).
Para
viabilizar este anseio, criaram-se os Centros Vocacionais do Sul e do Nordeste,
promoveram-se duas reuniões anuais para os animadores vocacionais e os
formadores, foram devidamente equipadas as casas de formação, aprovou-se o
Plano Provincial para a formação, melhoramos o Portal Salette que, aos poucos
vai propiciando aos jovens o conhecimento da Congregação e a pedir
acompanhamento vocacional. Ademais temos o Conselho de Província, a Assembleia
Provincial, o Retiro Provincial, o Capítulo Provincial, as reciclagens
comunitárias... Mais, aproveitamos das contribuições da CRB no campo da
formação: Postulinter, Novinter, Juninter e outros
que ajudam na formação permanente.
Certamente,
muito resta a fazer para que nossa formação inicial e permanente nos
qualifique a sermos missionários plenamente reconciliados e reconciliadores num
mundo onde o amor e a solidariedade baqueiam. Mas é ali que esperamos ser um
apelo de reconciliação e de esperança. Isto tudo existe. A questão é:
Em que nossa comunidade pode contribuir para que todos
esses “instrumentos” e esses sonhos se tornem realidade? Como?
O
terceiro marco é a missionariedade reconciliadora animada pelos santuários,
pelas romarias, pela revista Salette, pela Equipe Missionária, pelo Portal
Salette, pelas paróquias, pelos Centros de Assistência Social, pelas pastorais
e movimentos sociais, pela Escola Justiça e Paz...
Nossa
Regra de Vida descrevem com nitidez este marco: “A Congregação está a serviço
do povo de Deus. Todavia, entre as atividades apostólicas que lhe podem ser
confiadas, algumas correspondem melhor a seu carisma. Tais são:
- a evangelização entre os povos onde a Igreja ainda não
está enraizada, ou nos ambientes que se lhe tomaram estranhos;
-
as atividades orientadas para o aprofundamento da fé: pregação de retiros e de
missões, animação de centros de renovação, grupos de oração e reflexão sobre a
vocação cristã, ajuda aos movimentos que favoreçam a promoção humana e o
engajamento apostólico, o atendimento aos locais de peregrinação, especialmente
o da Santa Montanha;
- o
encargo de paróquias e capelanias; - a formação dos jovens; - à cooperação no
trabalho de união das Igrejas”(Regra de Vida 38 cp).
Os
Estatutos Provinciais indicam o método para implementar este marco: “A
província, atenta às exigências da evangelização e da realidade, adota como
método de ação:
a)-
ver analiticamente a realidade humana em suas estruturas;
b)-julgá-la
teologicamente à luz da Palavra de Deus;
c)-
agir pastoralmente para sua transformação”(Estatutos Provinciais n.5 1).
Estamos
nós vivendo o marco da missionariedade tendo em conta as orientações de nossa
Regra de Vida? Em nossa prática pastoral
estamos atentos ao método indicado pelos Estatutos Provinciais?
A
ousadia dos que nos precederam, possibilitaram o estabelecimento de marcos para
balizar o ser e agir saletinos no Brasil. Os marcos são importantes enquanto
apontam caminhos e horizontes. Estes, porém, tem pouco impacto, se não
estiverem alicerçados na esperança da qual tanto fala São Paulo. Para ele, a
esperança é a virtude dos fortes, dos que acreditam, como Maria, na realização
das promessas de Deus. Olhando para o retrovisor de nossa história podemos
levantar algumas das características da esperança que animou nossos
predecessores e que anima a cada um de nós. Vamos ler espontaneamente, com
pequena pausa entre uma e outra:
- A
esperança nasce quando caem por terra todas as seguranças.
- A
esperança alarga os horizontes e convida a olhar para além do presente; ela
nos desafia a sermos artífices de um futuro que não é a simples reprodução do
passado e do presente.
- A
esperança nos capacita a recomeçar quando tudo parece ter chegado ao fim.
- A esperança gera alegria, otimismo,
positividade, confiança no futuro e ousadia missionária; sua marca registrada é
a solidariedade com os marginalizados e o empenho pela justiça.
- A esperança leva-nos a acreditar, quando
ninguém mais acredita; a esperar quando todos se desesperam; a manter viva a
chama do ideal quando este, em muitos, se apagou; a sorrir quando muitos choram
e se lamentam.
- A esperança constrói-se prestando atenção
à história e à realidade, discernindo profeticamente nelas as provocações de
Deus e agindo com ardor para eliminar as infidelidades e desmandos contra o
projeto de Deus.
João Paulo II afirmou que Salette é uma
mensagem de esperança. Como essa esperança ressoa em mim e em nossa
comunidade? Como ser portadores de esperança num mundo que se revela sempre
mais incapaz de “esperar contra toda esperança”?
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